ATA DA OITAVA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 30.4.1992.

 


Aos trinta dias do mês de abril do ano de mil novecentos e no­venta e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Oitava Sessão Solene da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legis­latura, destinada a conceder o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Flávio Lewgoy, concedido através do Projeto de Lei do Legislativo nº 83/91 (Processo nº 1222/92), de autoria do Vereador Gert Schinke. Às dezessete horas e vinte minutos constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ve­reador Omar Ferri, 2º Vice-Presidente da Casa, no exercíco da Presidência, Senhor Flávio Lewgoy, Homenageado, Senhora Bella Lewgoy, Esposa do Homenageado, Senhor José Celso Aquino Marques, Presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natu­ral, Senhor Firmino de Sá Cardoso, representando a Associação Riograndense de Imprensa e Vereador Gert Schinke, Secretário “ad hoc”. E, ainda, como extensão da Mesa os Senhores Bernardo, Henrique, Ana Beatriz, Suzete, Olímpio, Clarissa, Eduardo e Paulo, todos familiares do Homenageado. Em continuidade, o Se­nhor Presidente manifestou-se acerca do evento e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Vieira da Cunha, em nome das Bancadas do PDT e PDS, teceu comentários a respeito da homenagem hoje prestada pela Casa, ressaltando que este evento coincidiu com a passagem dos vinte e um anos de existência da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Afirmou que esta Casa reconhece o trabalho do Senhor Flávio Lewgoy em defesa da humanidade, em especial, quan­do se trata do movimento ecológico. O Vereador Giovani Gregol, em nome da Bancada do PT, falou sobre a solenidade reportando-se acerca da vida do Homenageado, afirmando que o mesmo sempre prestigiou a Associação Gaúcha ao Ambiente Natural em defesa da natureza, por isso, hoje também se homenageia a AGAPAN. Falou, ainda, sobre a luta ecológica empreendida pelo Homenageado por melhores condições de vida. O Vereador Gert Schinke,em nome das Bancadas do PV, PTB, PL e PDS e autor da homenagem, falou sobre a maneira simples e espontânea em que o Homenageado recebe os defensores da ecologia. Falou, ainda, sobre a dimensão das lutas em beneficio da natureza, representando o Brasil em vários congressos sobre ecologia. Teceu comentários acerca da formação técnico-científica do Homenageado, afirmando que o mesmo é membro ativo da sociedade que defende as condições de vida neste Planeta. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Celso Marques, Presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural - AGAPAN, que falou sobre o desafio do Senhor Flávio Lewgoy em defesa de melhores condições de vida em todo mundo, saudando o Homenageado. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença, no Plenário, do Senhor Altino Bertier, Presidente da Associação dos Amigos da Amazônia. A se­guir, o Senhor Presidente convidou a todos para assistirem, de pé, à entrega do Diploma ao Senhor Flávio Lewgoy pelo Vereador Gert Schinke, bem como de arranjo floral ao Senhor Celso Marques pelo Senhor Altino Bertier. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Flávio Lewgoy que agradeceu a homenagem prestada pela Casa, na data de hoje. A seguir, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta e dois minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de segunda-feira à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Omar Ferri e secretariados pelo Vereador Gert Schinke, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gert Schinke, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Omar Ferri): Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, que se destina a outorgar o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Flávio Lewgoy, a Requerimento do Ver. Gert Schinke.

É uma grande honra para a Câmara Municipal de Porto Alegre entregar esse título honorífico ao Dr. Flávio Lewgoy. O Dr. Flávio é, no conceito das pessoas que lutam pelo meio ambiente, possivelmente uma das figuras mais destacadas, porque paralelamente à luta do Dr. Flávio, o acompanha o conhecimento político, técnico, científico, pedagógico e, conseqüentemente, político, um conhecimento geral que o Dr. Lewgoy tem dessa matéria, matéria que diz respeito à nossa comunidade, à nossa Cidade, ao nosso Estado e ao mundo todo, porque hoje vivemos numa espécie de aldeia global. Então, eu como Vice-Presidente, tenho a honra de presidir a Sessão Solene de hoje, me sinto muito agradecido em presidir a Sessão Solene destinada a entregar esse título de Cidadão Emérito a V.Exª. E fico tranqüilo Dr. Flávio, porque eu lembro dos tempos de repressão, dos angustiosos tempos de repressão, quando esta imunda na época chamada Borregard, com seu mau cheiro pestilento infernizava à vida dos porto-alegrenses, naquela época mais do que hoje. Eu lembro que morando na Tristeza eu já não agüentava mais aquela situação, e vivia numa época em que os sentimentos de liberdade estavam sufocados pelo regime de alta excepcionalidade em que o Brasil vivia. Mas eu não agüentei como o senhor, como o Ver. Gert Schinke, como o Celso Marques, como muitos outros dessa Cidade que lutaram e protestaram contra as violências de certas empresas contra o meio ambiente, mandei a minha mulher fazer uma placa e na frente do meu terreno na Vila Tristeza nós colocamos os seguintes dizeres nesta placa: nós somos contra a Borregard. Isto faz uns 15 ou 20 anos. Acontece que o Diretor do Correio do Povo, Dr. Breno Caldas, tinha uns cavalos lá em Belém Novo, estava muito irritado com os maus cheiros, com a pestilência da empresa, e coincidiu este fato com a morte do General De Gaulle. Incrivelmente, ¼ da primeira página da Folha da Tarde noticiava numa fotografia a morte do General De Gaulle. Agora, ¾ da página era uma fotografia minha e da minha família cavando o buraco onde implantei a placa que dizia: Nós somos contra a Borregard. Daí foi um espalhafato, e acredito eu que aquela ocasião foi um marco inicial da longa caminhada, da difícil caminhada que estamos todos nós realizando hoje, contra este verdadeiro desastre ecológico. Disse isto apenas para ilustrar, para enfatizar que todos estamos num mesmo barco, e que a nossa luta é a luta maior. Então em nome da Câmara de Vereadores de Porto Alegre com muito orgulho, em nome de todos os Vereadores, em nome do legislativo, do povo de Porto Alegre, as minhas mais sentidas homenagens e a satisfação que todos nós temos de conferir esse título honorífico de Cidadão de Porto Alegre a V.Exª.

E para dar início efetivo à presente Sessão Solene, eu desde logo passo a palavra ao Ver. Vieira da Cunha que vai falar em nome do PDT e do PDS. Comunico ao Plenário que se encontra presente o Ver. Giovani Gregol.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Companheiro Omar Ferri, Vice-Presidente desta Casa, presidindo esta Sessão. Homenageado dessa Sessão de hoje, Prof. Flávio Lewgoy, sua Exmª esposa, Bela Lewgoy, companheiro Presidente da AGAPAN, que aniversaria também esta semana, Prof. Celso Marques, Representante da Associação Riograndense de Imprensa, Jornalista Firmino Cardoso, familiares, amigos, do Prof. Lewgoy, Senhoras e Senhores.

É com muita honra que ocupo esta Tribuna, para em nome do PDT, Partido Democrático Trabalhista, Bancada Majoritária nesta Casa, prestar justa e merecida homenagem ao Professor Flávio Lewgoy. Meu primeiro contato pessoal com o Prof. Flávio Lewgoy foi em 1986, quando eu na condição ainda de suplente de Vereador nesta Casa, no exercício, naquela oportunidade, da vereança representava este mesmo Partido, do PDT, uma Sessão Solene em homenagem aos quinze anos da AGAPAN, que ocorria em 1986. Coincidentemente, hoje, na semana dos 21 anos da AGAPAN a Câmara de Vereadores de Porto Alegre reúne-se, solenemente, por proposição feliz, oportuna, do Ver. Gert Schinke, aprovada nesta Casa, para entregar ao ilustre Prof. Lewgoy o título de Cidadão da Cidade.

Na verdade, trata-se do reconhecimento da população de Porto Alegre ao trabalho, ao esforço e à dedicação do homenageado à nobre causa da preservação ambiental.

Época mais oportuna, Ver. Gert Schinke, da entrega deste título certamente não haveria. Na semana do aniversário da AGAPAN quando ela completa 21 anos a Câmara presta homenagem a um dos seus mais ilustres ex-presidentes. Químico, especialista em genética tem colocado seus conhecimentos, seus profundos conhecimentos técnicos e científicos a serviço da sociedade, ao lado das boas causas.

Prestigiar o Prof. Lewgoy, conferindo-lhe o mais honroso título municipal, de Cidadão de Porto Alegre, significa homenagear o seu trabalho, e também a AGAPAN, Prof. Celso Marques.

Reconhecer e fortalecer o movimento ecológico como um todo e prestigiar a sua militância. E isto é muito importante, principalmente em nossos dias, quando a onda neo-liberal esforça-se para vender uma ideologia elitista e excludente.

Falam até, e vejam o absurdo, na privatização dos bens naturais. Baseiam-se na tese de que só o que é particular, o que é propriedade privada seria bem cuidado. O que é público é de ninguém, afirmam os que defendem esta ideologia.

Na verdade, escondem sob este discurso os seus reais objetivos que é o de concentrar ainda mais a riqueza nas mãos de poucos, de acumular mais capital, não importa se às custas da degradação ambiental. E, portanto da queda da qualidade de vida. Homenageá-lo Prof. Lewgoy, ao Senhor e à AGAPAN significa fortalecer a luta, todos os que acreditamos na prevalência dos interesses coletivos sobre os individuais, que acreditamos em conceitos como o de bem e de uso comum do povo, inscrito na nossa Constituição Federal. Acreditamos num outro modelo de desenvolvimento para o nosso País, que erradique a miséria, valorize, efetivamente a pessoa humana e, portanto, preserve o meio ambiente. Este objetivo é possível de ser atingido, alcançá-lo-emos, tenho a certeza, principalmente Prof. Lewgoy, porque a sociedade conta com a contribuição, o trabalho e a dedicação de homens e cidadãos como o Senhor. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Giovani Gregol, que falará em nome da Bancada do PT.

 

O SR. GIOVANI GREGOL: (Lê composição da Mesa.)

Extensivo aos Srs. Vereadores, autoridades, companheiros de várias entidades ambientalistas, companheiros de luta e caminhada. Por fim, mas não por último, aos filhos e demais familiares que estão aqui conosco para a nossa alegria e principalmente, tenho certeza, para o Professor que recebe este título. O Bernardo, nosso ex-colega, eu na Faculdade de História e ele na Faculdade de Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Muitas conversas tivemos lá no Campus; o Henrique, um fotógrafo brilhante; a Ana Beatriz, a Suzete, o Olímpio, familiares, vários deles como professor também, de uma forma ou de outra, alguns mais diretamente, inclusive no caso das filhas que trabalham, que labutam nesta área de proteção e de melhoria do nosso ambiente.

Sempre é uma satisfação vir a esta Tribuna e principalmente numa hora de tanta responsabilidade representando a Bancada de oito Vereadores que somos no Partido dos Trabalhadores, subir aqui para homenagear, para prestar justas homenagens a um companheiro de movimento ecológico e também, o que foi bem lembrado pelo Vereador que me antecedeu na tribuna, quase que no dia próximo do aniversário dos 21 anos da AGAPAN, saber que, como nós fizemos no ano passado aqui, homenageando os 20 anos da entidade, saber que prestigiando o Prof. Lewgoy, estamos também prestigiando a AGAPAN e por extensão todo o movimento ecológico gaúcho e brasileiro. E prestigiando a AGAPAN estamos prestigiando o Prof. Lewgoy, porque pelo menos nesta ultima década, ou nesses últimos doze anos a vida do Professor tem estado eminentemente ligada à vida pública, inclusive a vida particular do Professor porque sabemos e tivemos a oportunidade durante algum tempo de inclusive conviver com ele, quando por duas gestões sucessivas nós tivemos a satisfação, nós associados da AGAPAN, de ter o Prof. como Presidente da Entidade. E eu fui seu colega, junto com outros companheiros de muito valor na diretoria e para tratar de assuntos referentes à entidade, privava um pouco da sua intimidade, do seu lar, em que a dona Bella sempre nos recebia. Então vários almoços, jantas, estivemos lá e vimos que a própria família do Professor se ressentia e a dona Bella se queixava: "Mas, Lewgoy, é só a AGAPAN, e a família?" Os filhos , depois os netos. Então o homem tão dedicado e cuja imagem está tão associada, não só dele, é verdade, mas dele também tão associada à imagem da AGAPAN: duas vezes Presidente, uma vez Vice-Presidente, Conselheiro, reeleito ininterruptamente há mais 10 anos. E, sem dúvida nenhuma, como foi ressaltado, mas quero repetir em nome da Bancada do PT que a iniciativa do Ver. Gert Schinke foi mais do que oportuna, mais do que oportuna, ela foi justa, porque pode, talvez, haver pessoas na nossa Cidade, estamos falando apenas da nossa Cidade, porque esta é a Câmara que representa o povo da Cidade, que tenham feito tanto pelo movimento ecológico, ou pela nossa Cidade, trabalhando no movimento ecológico como o Professor Flávio Lewgoy, mas mais certamente não há, eu lhes asseguro, e são poucas essas pessoas, podemos contá-las nos dedos de uma mão. E isso, feliz ou infelizmente, porque nós sabemos que o nosso movimento tem pessoas de muito valor, de grande qualidade moral, de qualidade técnica, de grande dedicação, como expliquei, como é o caso do nosso homenageado. Eu sempre digo, nós ecologistas ainda somos poucos, queremos ser milhões, e só quando nós formos milhões é que realmente nós vamos conseguir transformar a realidade com urgência cada vez mais premente e com a profundidade, com a radicalidade- que é a de ir às raízes- às causas dos problemas; com a radicalidade, com a profundidade que é a de ir às raízes, às causas das doenças, da doença que afeta hoje a nossa situação. E Porto Alegre não é uma ilha nesta situação decadente, mas está diretamente implicada, está diretamente sofrendo todas as conseqüências deletéreas da crise civilizatória que hoje assola o nosso planeta e que, ao contrário de outras crises, é, na realidade, um somatório, uma crise econômica, uma crise também social, uma crise política, uma crise existencial, uma crise filosófica, uma crise espiritual e inclusive religiosa. É uma adição de crises que nenhuma civilização, nenhum povo, nação ou cultura sofreu- pelo menos na história conhecida- como nós estamos sofrendo. E alguns grupos de pessoas que começaram pequeno- como a AGAPAN começou, que foi fundada em abril de 1971, mas que na realidade já tinha um grupo que já havia começado, alguns meses antes, a construção do que depois seria a AGAPAN, porque ela ainda não tinha nome, era capitaneado por José Augusto Cunha Carneiro, que depois recebeu apoio de José Lutzemberguer, que veio do exterior, o Presidente da Entidade que aqui se faz presente, o Prof. Udo Mohr, se não me engano- alguns que já não estão mais entre nós, como o Prof. Quintas, um dos maiores botânicos que teve este Estado, e outros tantos, que se aperceberam desta crise- que já era evidente- antes da maioria. E que não só se aperceberam, e que não só tinha e têm, cada vez mais aguçada, a consciência desta crise e a necessidade histórica de transformações radicais, mas que resolveram partir da consciência para a ação. O que é justamente o passo que nos transforma, que deve transformar todos nós- embora nós até nos autodenominemos, ou não, isto não importa, ecologistas. Chico Mendes não conhecia a palavra ecologia, não se dizia ecologista, Chico Mendes começou a se reconhecer, a se identificar com a luta dita ecológica e se dizer ecologista depois que viajou para o exterior e visitou a ONU, onde foi premiado pela Organização das Nações Unidas. Mas era um seringueiro, era um trabalhador como tantos de nós, que lá no meio da mata; no meio da selva Amazônica, que é a casa do seringueiro, como do índio, lutou pelas suas vidas, pela sua sobrevivência, e dos seus. Como nós, aqui na Cidade, como Professor, também tem lutado. Eu não posso, aqui, nem pretendo, desenrolar o curriculum vitae do Professor Lewgoy, porque inclusive dos seus títulos técnico-científicos, porque o tempo não bastaria, e todos nós conhecemos a competência técnico-científica do Professor, o que ele fez estritamente na sua área. Principalmente no Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e o que ele fez em uma série de outras entidades de reconhecido valor na área técnico-científica. Também não temos tempo de lembrar tudo o que ele fez no movimento ecológico. É possível lembrar apenas alguns momentos. Como a que eu tive a satisfação de privar, como professor, quando foi criada, nas primeiras reuniões, a hoje famosa Comissão de Luta contra a construção do Pólo Petroquímico do Rio Grande do Sul. Lá estava o Professor Flávio Lewgoy trazendo, como sempre, o seu aporte técnico inestimável e a sua vontade de brigar, de lutar, para que, na época, o Pólo não fosse construído. Infelizmente não fomos felizes neste sentido. Na época, os grandes donos do capital pagavam páginas centrais, de jornais, duas páginas de todos os jornais, inclusive o do velho Correio do Povo, daquele tamanhão, dizendo que o Pólo não ia poluir. E nós éramos um pingo de pessoas, mas algumas delas de grande valor, de grande vontade e formação e condição de questionamento a tal ponto que eles foram forçados a gastar rios de dinheiro para justificar o projeto.

O Governador do Estado da época, se não me engano o Amaral de Souza, dizia que o Pólo era imprescindível porque iria gerar 200.000 empregos diretos. E nós dizíamos que isso era uma mentira. Hoje o Pólo não gera nem 10.000 empregos diretos. Seria o caso de perguntar os outros 190.000? E assim uma série de outras lutas no dia-a-dia do movimento ecológico gaúcho. E até em outros Estados. Recordo-me do Professor, junto com outros, se envolveu também dando assessoria científica contra a construção do Pólo Carboquímico do Nordeste e que até hoje não foi concluído devido à assessoria que a AGAPAN prestou aos companheiros do movimento ecológico nordestino. Até para isso o Professor encontrava e encontrou tempo para ajudar lá, a milhares de quilômetros, do outro lado do Brasil. E agora, mais recentemente, e antigamente, uma luta que continua, o Professor tem dado uma contribuição fundamental, sem dúvida, aos trabalhos do "fórum", que discute a duplicação da indústria de celulose, Riocell S.A. e tem sido realmente imprescindível com a sua contribuição nesse "fórum", e ele, inclusive, foi um dos que permitiu que nós questionássemos eficazmente essa empresa, e obrigássemos essa empresa a fazer, e o Governo do Estado também, uma série de coisas que antes desse "fórum", que foi coordenado pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara a qual tive a satisfação de presidir, não estavam previstos, como a realização de uma audiência pública, que ainda não se concluiu, é verdade. Se fez uma em Guaíba, se marcou a de Porto Alegre por duas vazes, foi adiada pela FEPAM, órgão do Governo do Estado, se iniciou em Porto Alegre e se cancelou, quando dos 190 inscritos, apenas 10 puderam falar, inclusive a AGAPAN, que era a seguinte inscrita na lista, não pôde se manifestar. E também a obrigatoriedade para que a empresa, a seus custos, fizesse uma série de análises caríssimas nas águas e no lodo do rio Guaíba, coisa que o futuro certamente demonstrará a importância do fato de que essas análises foram feitas pela primeira vez na América do Sul, senão na América Latina, se fez um levantamento razoável da presença de dioxinas num sistema hídrico, pela primeira vez na América do Sul. "Know-how" que foi trazido, em parte, é verdade, aos técnicos do DMAE, CORSAN, da AGAPAN, e outros, que acompanharam todos esses trabalhos de coleta e de análise, depois de discussão ou de interpretação dos resultados, sobre os quais paira uma polêmica muito séria. Todos vocês sabem que, ao contrário da leitura que faz estes resultados, a própria Riocell e FEPAM, no sentido de eximir a Riocell de qualquer culpa de poluição, de qualquer culpa, não só das dioxinas, que foram analisadas, mas de qualquer tipo de substância no rio, o Professor Flávio Lewgoy, e a AGAPAN, através dele, a Prefeitura de Porto Alegre, e outras entidades, têm demonstrado que, na realidade, os dados estão corretos mas que não se pode fazer esse tipo de interpretação. E eu faço questão de citar estes casos bem específicos, porque a vida do professor, a sua batalha se compõe desses pequenos detalhes do dia-a-dia, em que muitas vezes as homenagens não chegam, em que muitas vezes nós temos só incomodação, e nos irritamos, nos desgastamos, somos questionados, xingados pelos donos do poder, da "razão", que continuam, apesar de todo o marketing verde, milionário, no qual eles investem, continuam na verdade, tendo senão o mesmo discurso, mas a mesma prática que tinham há 20, 25 anos atrás quando a AGAPAN estava recém surgindo, ou havia surgido, de que na realidade nós ecologistas somos muito radicais, companheiros do Professor Lewgoy, muitas vezes liderados por ele e por outros, estamos impedindo o desenvolvimento, que pessoas ganhem empregos, e assim por diante. Então, a nossa luta foi longe, a do Professor foi grande, muito se avançou em consciência, mas ainda falta muito mais. Quero concluir, agradecendo ao Professor em nome do PT o qual eu represento, em nome da Cidade que está dando este título justo, tantos títulos se deram, nesta Casa, enquanto aqui estivemos, sem demérito dos outros, certamente este é um dos mais merecidos e que deve ficar registrado na História desta Casa e desta Cidade. E, pedindo a ele e aos seus familiares que apesar de todos os esforços, de todas as dificuldades continuem nesta luta, e se pudermos gostaríamos de continuar juntos com o senhor para que os nossos filhos, nossos netos, e este planeta como um todo, inclusive, esta Nação que passa por uma crise ainda maior, e que na sua média possa ter pelo menos uma perspectiva de futuro digno e à altura de ser vivido por homens e mulheres na melhor acepção da palavra. Com isso eu deixo a saudação ao homenageado. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa informa ao senhores e as senhoras que o Prof. Roque Jacob Stefen é representante oficial da SMAM que está aqui conosco presente; está presente também o Engº Udo Mohr velho lutador em favor da ecologia e meu amigo pessoal; a senhora Sara Stolnik, que representa a Associação Democrática Feminina Gaúcha dos Amigos da Terra.

Pelas Bancadas do Partido Verde, do PTB, do PL, do PPS falará o Ver. Gert Schinke, a quem a Mesa passa a palavra.

 

O SR. GERT SCHINKE: Presidente da Mesa, Ver. Omar Ferri, meu querido homenageado; Dona Bella, sua esposa; Dona Sara Stolnik da FG; Prof. Celso Marques, meu querido amigo, Presidente da AGAPAN; companheiro Roque Stefen, aqui representando o companheiro Caio Lustosa, nosso Secretário do Meio-Ambiente; representando a ARI, Sr. Firmino Sá Cardoso e também nosso querido amigo Altino Bertier da Sociedade Amigos da Amazônia; demais companheiros do movimento ecológico, dos partidos aqui representados; Vereadores; meus amigos e os familiares do nosso homenageado, Professor Flávio. Uma lembrança especial aos seus quatro filhos: Bernardo, Enrique, a Ana Beatriz, a Suzete, os netos e entre os quais, é claro, eu também me incluo, porque uma coisa que caracteriza a família do Flávio é a humildade, a maneira pela qual recebem em sua casa os companheiros, os militantes do movimento ecológico. Passei horas, realmente, muito felizes- foram poucas, é verdade- ao lado da Bella, do Flávio e dos seus filhos em momentos que sempre me vêm à tona, quando articulávamos chapas de diretoria da AGAPAN, indicação de conselheiros e sempre me vêm à memória aquelas ocasiões em que todos os caminhos levavam à casa do Flávio, onde a gente procurava articular as questões de economia doméstica da AGAPAN, e também as questões do movimento ecológico aqui em Porto Alegre, do Rio Grande do Sul e do Brasil. A dimensão da luta mostra que é local e ao mesmo tempo global. Eu quero, antes de arrolar algumas informações sobre a própria figura do Flávio, registrar que é uma satisfação o recebimento de um cartão do Vice-Governador do Estado, Sr. João Gilberto Lucas Coelho que diz o seguinte: Prezado Flávio, no momento em que V.Sª é agraciado com o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre, transmito os meus cumprimentos ao companheiro Flávio Lewgoy. Que é nascido em Porto Alegre no dia 30.01.1926, formado na UFRGS, foi bolsista do Conselho Nacional de Pesquisas entre 1955 e 1957 no Instituto de Ciências Naturais da UFRGS na sessão de Genética, foi bolsista também da Fundação Rockefeller, na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, ele é especialista em genética, formou-se em 1974 pelo Curso de Pós-Graduação em Genética do Departamento de Genética da UFRGS, desde 1958 e é Professor titular do mesmo departamento desde 1980. O Dr. Flávio também é membro da Sociedade Brasileira de Genética, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC, e da New York Academi of Times, é o autor de mais de 30 publicações de Genética, Química, divulgação científica, e criminalística publicadas no Brasil, Europa e Austrália. Compareceu a dezenas de Congressos científicos apresentando comunicações na sua grande maioria. De 1981 a 85 ele exerceu o cargo de Vice-Presidente e também de Presidente da AGAPAN, e duas Diretorias. E foi nessa ocasião que eu tive a honra de ser também colega de diretoria, tesoureiro da AGAPAN, e tendo na cabeça da nossa entidade essa brilhante figura. O Professor Flávio também representou o Brasil no Congresso Internacional sobre chuva ácida em Eckebecke, Holanda, em 1985, foi redator da primeira lei estadual de agrotóxicos, em 1982, e da atual lei de agrotóxicos, bem como de sua regulamentação, que aconteceu em 1987. De lá para cá, como já é bem mais lembrado por nós, está envolvido em dezenas de lutas, como as que já foram recentemente lembradas. Professor, desde que se criou a comissão técnico-científica da AGAPAN, é seu membro ativo e tem levado um trabalho, especialmente nestes dois últimos anos, em função da Riocell e também na questão dos incineradores de lixo hospitalar, dois assuntos da maior importância na atualidade e que dizem respeito a um mesmo problema: a produção de venenos decorrentes de um modelo econômico, tecnológico, imposto à nossa sociedade, mas que aqui dentro da nossa sociedade tem os seus testas de ferro, os seus defensores. Não é por outra razão que esses grandes empreendimentos industriais, sejam eles o Pólo Petroquímico, sejam eles grandes complexos de refinaria petroquímica, sejam eles as indústrias de celulose que cada vez mais se constroem neste País. Não é por menos que eles estão neste Brasil, é porque os dirigentes, aqueles que decidiam essas questões no passado assim resolveram fazê-lo e hoje estamos amargando as conseqüências desse modelo de desenvolvimento que a sociedade brasileira vive e também, porque não dizer, hoje ele assume uma dimensão global praticamente em todo o mundo. Aí, gostaria de ressaltar a posição do Prof. Flávio Lewgoy em relação à ciência. Entendo que é essa uma das questões que faz com que Flávio não tenha aberto mão, durante todos esses anos, da sua militância, de nenhum milímetro dos seus princípios. Tem colocado a serviço do movimento ecológico todo o seu conhecimento e, mais do que isso, tem tido uma relação ética com a verdade. Porque o que pode ser mais sublime, mais digno para um cientista (sic), é transmitir a pura verdade que ele encontra na ciência. E o Prof. Flávio faz isto, com a maior profundidade. O Flávio devora os textos que nos chegam, via computador, instalado no meu gabinete e o circuito internacional de telecomunicações, onde a gente começa a se inserir dentro do grande circuito mundial de informações da área técnico-científica. Ele devora estes textos e recentemente passávamos a ele alguns textos de cientistas se pronunciando sobre as dioxinas, que envolvem, em ambos os casos a Riocell e os Incineradores. Os olhos dele brilhavam e dizia: isto é fantástico, precisamos mais informações.

Esta é a relação de um cientista com a verdade. É o comportamento ético diante da ciência e da sociedade que ressalto na pessoa do Flávio.

Mas, por outro lado, isto não conferiria ao cientista uma qualidade imprescindível, ao militante necessária nos nossos dias para cumprir um papel transformador. Porque sabemos que tem cientistas que se apropriam do conhecimento, mas não assumem uma posição diante da sociedade.

Esta é uma qualidade que, quero ressaltar na figura do Flávio Lewgoy, a maneira pela qual ele enquanto cientista, pessoa, cidadão que se insere neste contexto, assumindo uma militância, uma posição diante das coisas. Esta é uma das maiores qualidades de um cientista, e confere o título de cidadania a uma pessoa. Um cientista não pode ficar em cima do muro. Uma pessoa não pode ficar, ora concordando com isto, ora concordando com aquilo, numa posição neutra. Não existe neutralidade na Ciência e na Tecnologia, existe a ciência a serviço da sociedade, dos oprimidos, a serviço do projeto transformador. É assim como eu encaro e assim que eu consigo enxergar a figura do Flávio Lewgoy, exercendo, fazendo a sua militância ao lado de nós, companheiros e companheiras do movimento ecológico.

Nesse momento em que todo o mundo se volta à Conferência Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente, a ECO 92, nesse momento assume maior importância ainda esse título que nós, hoje, estamos entregando ao companheiro Flávio. Ao mesmo tempo em que nós estamos homenageando a passagem do 21º aniversário da AGAPAN. Esta coincidência ela foi planejada, porque a figura do Flávio Lewgoy não se pode dissociar da AGAPAN, assim como não se pode dissociar a figura do Lutzemberger da AGAPAN, do Carneiro ou de outros tantos brilhantes companheiros que já passaram pela AGAPAN, que estão presentes na AGAPAN e que infelizmente não posso lembrar de todos aqui. Seria uma injustiça se deixasse de fora brilhantes companheiros que têm dado a sua contribuição imprescindível não só a AGAPAN, porque a AGAPAN não é uma finalidade em si, a AGAPAN é um instrumento de organização de luta que nós podemos nos utilizar para chegarmos a determinados objetivos, assim como são os partidos políticos que não são nada mais do que meros instrumentos de organização política e se organizavam dentro da sociedade para a organização do poder e do exercício do poder dentro da sociedade. O objetivo final e maior é a transformação dessa sociedade, é chegar para a garantia de uma melhor qualidade de vida, especialmente, e aí para isso que hoje apontam o rumo do movimento ecológico e a necessidade desse caminho que está caminhando a humanidade a segurança das futuras gerações. É a garantia da qualidade de vida das futuras gerações que está em jogo nos dias de hoje quando nós brigamos, quando nós subimos aqui esbravejamos contra uma duplicação da Riocell; quando nós denunciamos a instalação de incineradores de lixo hospitalar em nossa Cidade, nós não estamos fazendo nada mais do que brigar para que os nossos filhos, nossos netos, e outras tantas gerações que vão nos suceder tenham uma vida tão digna ou muito melhor, é isso que nós desejamos, do que a nossa mesma.

A homenagem, essa singela homenagem, Flávio, Dona Bella, e os familiares do Flávio, é muito pouco ainda do meu ponto de vista, que a Cidade deveria fazer a uma figura como o Flávio, e a esses tantos companheiros, que têm doado generosamente horas, dias, somados esses dariam meses, quem sabe anos, talvez, de suas vidas em prol de objetivos, de causas, que são realmente as causas nobres, que não são aquelas causas mesquinhas que estão ligadas aos bolsos, às contas bancárias, àquelas nossas picuinhas do dia-a-dia, para a nossa sobrevivência. Não, são as causas generosas e nobres que querem uma melhor qualidade de vida para as outras pessoas, anônimas, para o povo em geral. E está realmente muito difícil, Flávio, encontrar pessoas como tu, na atualidade. No momento em que especialmente na sociedade brasileira, a vulgarização das nossas vidas, tem chegado a um estágio alarmante, inclusive a vulgarização do que seja realmente a luta ecológica, do que sejam realmente os objetivos do Movimento Ecológico. Tem-se empastelado toda esta situação com um verdadeiro modismo, que é realmente uma coisa muito preocupante, no momento que está diante de nós numa nova conferência mundial.

Eu queria com isto então encerrar, e dizer que para mim foi um motivo de enorme satisfação, de enorme orgulho e que eu pessoalmente me orgulho demais, sobremaneira com a iniciativa que confere hoje a este Título de Cidadão de Porto Alegre, mais do que justo, uma homenagem que não é só ao Flávio Lewgoy, pessoa, cientista, militante do Movimento Ecológico, mas que acima de tudo, homenageia também a Cidade de Porto Alegre, Porto Alegre está de parabéns. Parabéns, Flávio Lewgoy. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedo a palavra ao Sr. Presidente da AGAPAN, Sr. José Celso Aquino Marques.

 

O SR. CELSO MARQUES: Sr. Presidente da Mesa, Ver. Omar Ferri, Vice-Presidente desta Casa. Representante da Associação Rio-Grandense de Imprensa. Flávio Lewgoy, familiares do Flávio Lewgoy, membros da AGAPAN, da ADFG, núcleos de ecojornalismo do Rio Grande do Sul. Outros companheiros da AGAPAN, Udo Mohr, Roque, e outras pessoas que seria extenso, até, enumerar. Em nome da AGAPAN e em meu nome pessoal, na qualidade de amigo de Flávio Lewgoy, é uma grande honra esta homenagem dupla, na qual o título de Cidadão de Porto Alegre que o Flávio Lewgoy recebe desta Casa, que representa a coletividade porto-alegrense e os anseios políticos desta nossa comunidade. Flávio, ao ser homenageado, também homenageia a AGAPAN. Nós da AGAPAN também nos sentimos homenageados com esta homenagem ao Flávio, exatamente porque o Flávio conquistou com sua intensa participação na entidade, este reconhecimento que é mais do que merecido, e mais do que justo e que nos honra a todos nós enquanto porto-alegrenses e enquanto amigos, e amigos de sua família e de seus familiares. Acho até difícil de falar depois de ter sido precedido por oradores tão formidáveis como são Omar Ferri, como são Giovani Gregol, Gert Schinke, como é também o Vieira da Cunha. Muito do que eu gostaria de dizer já foi dito por eles e eu não gostaria de me repetir. Gostaria de endossar tudo o que eles colocaram. E agradecer também esta homenagem feita à AGAPAN que eles fizeram e agradecer também ao Lewgoy tudo o que ele tem feito por nós, na qualidade de cidadãos. Vocês sabem que o lema do Movimento Ecológico é pensar globalmente e agir localmente. Eu faço às vezes uma paródia dizendo que o nosso lema hoje, na realidade, é pensar globalmente e agir loucamente. Porque hoje em dia ser ecologista é a pessoa viver pressionada pelo tempo que está correndo, por uma degradação ambiental, social, política, uma degradação geral que assola as nossas vidas e nós correndo contra o tempo, apostando, fazendo uma aposta na humanidade, porque a comunidade conseguirá superar esses esforços; e essa crise através desses esforços dessas pessoas que são abnegadas e que estão irmanadas nessa luta por um mundo melhor, por uma civilização realmente integrada à natureza e não contra a natureza como foi a nossa civilização atual. Então é um motivo de uma imensa alegria, satisfação, enquanto Presidente da AGAPAN nós nos sentimos duplamente, ou até triplamente homenageados pelo Lewgoy, porque esta homenagem ele merece através da atuação na AGAPAN, mas não apenas, também na AGAPAN, porque o Lewgoy é um integrante, um militante de tempo integral; é um homem que não assumiu essa perspectiva do homem que tem duas caras, ele também milita na universidade, tendo criado na universidade uma cadeira de Ecotoxicologia que é a sua militância dentro da universidade. Então o Lewgoy é um homem que é um militante em tempo integral, provavelmente até dormindo ele está militando, porque ele é um homem que vive intensamente, como poucos entre nós, a preocupação com a questão ambiental.

Eu acho muito importante as questões que foram levantadas aqui anteriormente pelos oradores que me antecederam, enfatizando o Lewgoy como homem de ciência, como técnico. Porque nós do movimento ecológico necessitamos de técnicos e não apenas isso, o movimento ecológico surgiu e continua a crescer baseado nos cientistas e técnicos dissidentes do sistema, porque foram eles os primeiros a trazer estas denúncias e a fundamentar as denúncias da degradação ambiental na ciência natural.

Este aspecto é muito importante, foi enfatizado, anteriormente, é um grande desafio. Há poucos dias eu conversava com um amigo, presente aqui, neste Plenário, a respeito de uma descoberta que eu havia feito: relendo um livro que rememorava a vinda do Einsten ao Brasil, quando ele estava em plena glória, lá pelo final dos anos 20 ou início dos anos 30 - não recordo bem - ele veio ao Brasil e quem o recepcionou e o acompanhou por toda a parte foi um físico e este físico chamava-se Roberto Marinho que hoje é o dono das "Organizações Globo". Eu comentava a um amigo esta descoberta e ele me disse: mais uma vez vem provar que a ciência não é suficiente para fundamentar eticamente as pessoas; mais uma vez vem provar que o Presidente da Sociedade Brasileira de Progresso para a Ciência, por exemplo, que recentemente se opôs à vinda do Dalai Lama no Brasil, na qualidade de Presidente da SBTC, quando, hoje, a questão do Tibet é um verdadeiro escândalo mundial com a invasão chinesa do Tibet, com a destruição de milhares de templos tibetanos, com a tortura e o assassinato de milhares de pessoas, simplesmente por terem uma religião- uma religião que, diga-se de passagem, tem um elevado sentido ecológico, que é admirada, hoje, no mundo inteiro, como é o Budismo, especialmente o Budismo tibetano. A gente fica perplexo quando vê que um Presidente, como o é o atual Presidente da SBPC, se posicionar, cedendo às pressões que o governo chinês está fazendo sobre o governo brasileiro, para impedir que o Dalai Lama, que é o representante espiritual e político do Tibet, um Estado que está sob a dominação chinesa, um Estado que está sendo devastado ecologicamente pelos chineses, que hoje está servindo de depósito de lixo nuclear da China, está hoje sendo um "apartheid" oriental, no qual os tibetanos são discriminados racialmente, como na África do Sul era até há pouco tempo. Uma pessoa com uma formação científica consagrada, é capaz de se colocar contra a vinda desse representante ao Brasil, contra, mais uma vez apoiando um Governo nosso, que tem primado por ser um Governo que só toma decisões corretas, me parece, em termos de política internacional, quando todos já decidiram e ficaria até constrangedor não tomar determinadas posições, como foi o caso na guerra das Malvinas, como foi o caso na guerra contra o Iraque, que o governo brasileiro, com seus compromissos, ficou em cima do muro o que pôde. Essa contextualização eu trago a vocês e é muito importante. O que foi salientado anteriormente é essa vinculação da ciência com os interesses maiores da sociedade. Nós, do movimento ecológico, se por um lado necessitamos, nas nossas lutas, de colocarmos gente nas ruas, de fazermos manifestações, de tentarmos comover e sensibilizar a opinião pública e mobilizá-la em torno das nossas lutas, por outro lado, não podemos dispensar o trabalho técnico e científico que é realizado na retaguarda por pessoas como Flávio Lewgoy e outras pessoas que atuam no movimento. Sem essas pessoas nos dando o respaldo científico e técnico, as nossas lutas são completamente destinadas ao fracasso. Porque, hoje em dia, no estado atual da civilização, com o direito ambiental se desenvolvendo, as ações que nós realizamos muitas vezes vão à Justiça e necessitam de uma confrontação técnica, que vai ser decidida no plano da Justiça, e essa confrontação técnica necessita, exatamente, do concurso e da colaboração das pessoas de conhecimento. Mas, atualmente, estamos vivendo um drama aqui em Porto Alegre, que é, exatamente, o drama da duplicação da Riocell. O Flávio Lewgoy, junto com outras pessoas da AGAPAN, tem sido o principal articulador, neste processo todo de discussão e de denúncia em bases técnicas deste projeto de duplicação. Como eu já tenho dito em outras oportunidades, a duplicação da Riocell representa tratar a população de Porto Alegre e de arredores de mais de dois milhões de pessoas como rato em laboratório, porque esta população desinformada, ignorante, carente, sem uma cultura democrática e participativa é que bebe esta água, poluída pelos mais poderosos venenos que se conhecem e que são derivados do processo de branqueamento da celulose. Eu queria também trazer uma denúncia a vocês, é que estamos ouvindo muito, agora, quando já é fato consumado, a questão ambiental, quando ninguém mais se atreve a duvidar da base ética e científica dos problemas ecológicos, quando todo mundo fala em desenvolvimento sustentável; temos que denunciar aqui a nossa oligarquia local, estadual e nacional, uma oligarquia que tem trabalhado, tem tido um sucesso imenso em acumular cada vez mais riquezas, em concentrar cada vez mais poder. E, é esta oligarquia, que são grupos de pessoas que talvez caibam nos dedos da mão que, hoje, no Rio Grande do Sul está novamente impondo, à revelia do bom senso, à revelia do conhecimento científico existente, hoje, a duplicação da Riocell. E, esta duplicação da Riocell, não temos nenhuma dúvida, representa um crime contra o nosso Guaíba, contra a nossa população, crime este que está se perpetrando com a omissão da imprensa, porque a população não está sendo informada. Quero denunciar que a AGAPAN já forneceu aos principais meios de comunicação todos os documentos que foram produzidos questionando a duplicação da Riocell, documentos que não são "achologia" , mas são documentos com base técnica, científica e também uma base ética. E a imprensa não divulga, a imprensa atrelada aos interesses oligárquicos desta minoria que é responsável pelo atraso econômico e moral da nossa gente, esta minoria está amordaçando as manifestações que nós temos levado contra a duplicação da Riocell.

Neste trabalho é muito importante salientar que nós estamos, apesar de toda a oposição de um sistema extremamente poderoso de um poder econômico da ordem de bilhões de dólares, que envolve todos os interesses vinculados à duplicação de uma unidade de produção de soda-cloro, com a possível conseqüência de criação de todo um processo cloro-químico, cujo processo ambiental não está sendo avaliado junto com a duplicação da Riocell, que, abrindo um parêntese, a aprovação desta planta foi feita sem um debate, foi feito inclusive sem o conhecimento da COSMAM que estava debatendo o assunto há mais de um ano. Em todo caso eu queria dizer que nós estamos conseguindo colocar uma série de pedras no caminho da duplicação da Riocell. Nós não perdemos a esperança de impedir esta duplicação, nos termos em que ela está sendo proposta, porque existem outras alternativas tecnológicas que não estão sendo contempladas. O principal ponto que eu queria trazer é que nesta atividade de questionamento deste projeto Flávio Lewgoy e outros companheiros da Comissão Técnico-Científica, são, praticamente, as únicas pessoas que têm dado um suporte técnico, têm feito uma contestação a essas pretensões expansionistas da Riocell, que já hoje é Rio Norte. No sul da Bahia, já tem uma grande empresa poluindo lá, em estado de implantação. E o ponto que eu gostaria de enfatizar, e que para mim o Flávio Lewgoy é exemplar, é que eu estou convencido de que nós estamos precisando de outros Flávios Lewgoys, precisamos de outros Flávios, não muitos, mas eu acredito que com mais uma meia dúzia, ou uma dúzia de Flávios Lewgoys, nós conseguiríamos mudar esse mundo aqui, mudar essa nossa cidade, esse nosso Estado de uma forma simplesmente maravilhosa. Mas que coisa mais trágica também essa situação humana que nós vivemos hoje, quando o destino de tantos depende de tão poucos, enquanto que o poder, as pessoas têm, seja como indivíduo, como cidadão, é um poder imenso que não é assumido, por alienação, por covardia, por ignorância, por toda uma série de razões. Mas o ponto que é importante, e nesse ponto o Flávio é exemplar, é exatamente esta integridade, este desprendimento, esta dedicação à causa ambiental e ao povo dessa Cidade, desse Estado, desse Brasil, e desse mundo é o fato de o Flávio ser um cidadão do mundo, quando ele é um cidadão porto-alegrense na sua mais radical integridade. E eu acho que nesse sentido esta homenagem é extremamente pertinente, merecida e nos engrandece a todos por estarmos aqui partilhando desse momento com ele e em outros momentos as nossas lutas cotidianas. Para concluir, eu insistiria mais uma vez no problema que hoje é crucial, da necessidade de independência, da necessidade da assunção da cidadania que é uma das bandeiras também, da ADFG, Amigos da Terra. A necessidade de nós sermos cidadãos desse processo de educação coletiva visando à formação da cidadania consciente, participativa, venha a ser catalisado cada vez mais por outras pessoas que sigam o exemplo do Flávio, porque à medida em que as pessoas despertarem e que um número maior de pessoas começar a tomar consciência, esse número não precisa ser grande, basta uma dúzia, nós poderemos mudar muita coisa. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A AGAPAN comemora, nesta semana, seu 21º aniversário e esses 21 anos foram festejados no dia 27 de abril p.p. A Câmara de Vereadores de Porto Alegre tem a honra de oferecer ao seu Presidente, Dr. Celso Marques, um vaso de flores que tem o nome de Ciclamem. Já que o Cel. Bertier viveu muitos anos embaixo de árvores enormes e frondosas, convido-o para que faça a entrega, em nome da Casa, deste pequeno vaso de flores ao Celso Marques.

 

(É feita a entrega do vaso de flores.)

 

Convido a todos para que, de pé, assistam à entrega do título e da medalha do Município de Porto Alegre ao Dr. Flávio Lewgoy.

 

(O Sr. Presidente, Omar Ferri, procede à entrega do Diploma de Cidadão de Porto Alegre.)

 

Convido o Ver. Gert Schinke para que faça a entrega ao nosso homenageado e, agora, Cidadão de Porto Alegre, da Medalha conferida pelo nosso Município.

 

(É feita a entrega da Medalha.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: E para finalizar, concedemos a palavra ao nosso homenageado, Dr. Flávio Lewgoy, grande defensor do nosso sistema de ecologia e da causa pública porto-alegrense.

 

O SR. FLÁVIO LEWGOY: Ver. Omar Ferri, Presidente desta Sessão; Vereadores Vieira da Cunha, Gregol, Gert Schinke, companheiro Celso Marques, companheiros do Movimento aqui presentes, meus amigos, meus familiares, Senhores e Senhoras.

Eu sou um emotivo e dificilmente conseguiria suportar tamanha carga de benevolência e generosidade, colocada sobre uma pessoa, se não fosse também o fato de que o meu treinamento como pesquisador, me conferiu a capacidade de análise fria dos fatos. E sei muito bem, que ninguém, como os próprios gens, atuam isoladamente, e existe uma história por trás de cada evento, uma história por trás de cada honraria, e até porque não dizer, de cada crime. E eu sei e pude conferir na reflexão de dias que antecedeu a esta reunião o que me aconteceu, e que portanto me leva a dividir esta homenagem com pessoas já falecidas, e por felicidade até o presente, todos contribuíram.

As poderosas forças do convívio, do exemplo e do estudo foi que me deram, juntas ao acaso, sempre, fator poderoso, que me levaram a estar aqui com vocês. Também um certo "time" a capacidade conferida pelo acaso está presente. Na ocasião que os fatos aconteceram e que reuni conhecimentos, que eu próprio não teria condições, nem meus pais, de adquirir, talvez se fosse hoje. Mas, vejam, meus ancestrais, imigrantes europeus, judaicos, eram gente boa, trabalhadora, simples. Sempre soube que eles prezavam a honra, a palavra dada, desprezavam mesquinharia, desonestidade. Isto contribuiu muito para que eu e todos meus familiares sejamos o que somos. Meu pai, companheiro de adolescência de Aparício Torelli, era jornalista, foi redator de um dos seus jornais, sempre todos nós tivemos admiração pelo nosso pai, era líder comunitário, nunca se preocupou muito com coisas materiais, jamais conseguiu ganhar dinheiro, não porque não tivesse capacidade, muito pelo contrário, poderia ter ganho. Mas, ele preferia se dedicar às causas comunitárias, era poliglota. Disse que ele era líder comunitário.

Tive a felicidade de ter como colegas no curso secundário dois grandes amigos que se transformaram em eminentes cientistas, um deles está presente, Dr. Casemiro Tondo, cientista laureado, internacionalmente conhecido, amigo de adolescência, de faculdade, também depois da UFRGS. Aprendi que a sua influência ajudou a confirmar a minha escolha de pesquisador. Cheguei já formado Professor da UFRGS ao tempo do nascimento do movimento ecológico, mesmo sem hesitar abracei este movimento, me dediquei de corpo e alma, numa época perigosa quando muitos temiam em falar- notem que eu não me considero valente, apenas não consegui evitar de falar e a imprensa me escutava porque provavelmente não havia alguém tão tolo que se prestasse a correr este risco e eu corria. O fato é que eu devo dizer as autoridades da época nunca julgarem que eu merecesse a consideração de ser chamado como o Lutzemberger foi a polícia federal prestar declarações. Nunca soube disso. E na AGAPAN conheci companheiros que muito me ensinaram- a maioria se não todos- o próprio Lutzemberger, o Lutz, acho que alguns meses mais jovem do que eu, e a AGAPAN ela completa maioridade neste mês e a maioridade ela já se desligou do seu ilustre fundador, que é uma figura que inspira respeito, mas que para a AGAPAN é uma coisa histórica, nada mais. A AGAPAN tem vida própria, não depende mais da orientação de José Lutzemberger, embora, as vezes, a gente até sinta falta dos conselhos, mas ele está agora ocupado com o mundo, com a Amazônia.

Devo dizer que ser um cidadão, para mim, é algo que me honra muitíssimo. Este título eu recebo com as limitações que eu continuo dizendo, quero dizer que ninguém ganha nada sozinho, todo mundo recebe o que merece, justo ou injustamente quem não merece, por influências inúmeras e eu fui funcionário público estadual, aposentado, sou Professor, acho que sou ainda professor de uma universidade pública onde estudei, jamais despendi um centavo com a minha educação, portanto, ainda hoje, sou sustentado, cada centavo que eu ganho vem dos cofres públicos, nada mais normal do que retribuir o que estou recebendo, colocando os conhecimentos que eu adquiri, as minhas leituras, os meus estudos, o meu estágio no Exterior, tudo foi pago pelos cofres públicos. Não há nada de extraordinário nisso: funcionário público, professor de uma universidade pública tem obrigação não só de dar aula, mas também de colocar os seus conhecimentos- eu chamo isso de descodificar a linguagem científica, porque a linguagem científica é hermética. Um cientista do ramo não entende patavina do que o outro está dizendo. Fora o fato de que a ciência, a cultura, a filosofia estão divididas por muros intransponíveis, o que é uma tragédia dos nossos tempos.

Então, a UFRGS me deixou falar, deixou que eu usasse parte do meu tempo, até mesmo num catálogo oficial, apesar da afirmativa de pessoas que perguntaram: mas o que este professor está fazendo que não está dando aula? A melhor maneira que um ex-presidente que conhecemos: "professor ensina, aluno estuda." Mas eu acho que um professor deve fazer mais do que ensinar. A UFRGS, uma das melhores Universidades do País me deu esta chance e sou muito grato por isto. Jamais alguém me disse: você está exorbitando. Volte pra aula. Volte para o seu laboratório. Você não pode fazer isto. Muito pelo contrário, o meu querido Departamento de Genética, nunca, em tempo algum, me disse: você não está fazendo tanto tempo como os demais. Alguns até poderiam pensar, mas jamais me disseram isto. E eu também não estou só, mais gente do Departamento está participando. Então, realmente, se tornou uma coisa corriqueira.

Nada de mais existe que eu seja um cidadão, na acepção do dicionário de ciências políticas da Fundação Getúlio Vargas, que diz que o cidadão é membro ativo duma sociedade política independente. Então, a coisa é plenamente normal.

Só para finalizar, no frontispício da Casa do famoso psicanalista dissidente, Carl Gustav Jung, na Suiça existe uma frase: "vocatus nom vocatus Deus aderib", chamado ou não chamado, Deus estará presente. Traduzindo em termos mais aceitáveis para os não-religiosos: incluídas ou não incluídas nos projetos humanos, as leis naturais, implacavelmente estarão presentes e como diz Michel Duserrys no seu livro Contrato Natural, o homem instituiu o direito do homem, mas esse direito do homem que teve o seu período áureo na Revolução Francesa, fim do século XVII, é exclusivamente um contrato de cessação de hostilidade entre homens pelos bens materiais, mas ele não leva em conta a terceira parte que é tão importante, ou mais do que eles, porque é ao mesmo tempo interna e externa a eles que é a terra, a natureza e que hoje em dia se faz presente de todas as formas que não se pode ignorá-la. Então diz Michel Duserrys: volta à natureza, isso significa o contrato exclusivamente social, juntar o estabelecimento de um contrato natural, de simbiose e de reciprocidade, onde a nossa relação com as coisas deixaria domínio e posse pela escuta admirativa, pela reciprocidade, pela contemplação e pelo respeito; onde o conhecimento não mais suporia propriedade, nem a ação a dominação, nem essas os seus resultados ou condições exterporária (sic). Contrato de armistício na guerra objetiva, contrato de simbiose. O simbiota admite o direito do hospedeiro, enquanto o parasita condena à morte aquele que pilha e que habita, sem tomar consciência de que no final condena-se a desaparecer. O parasita toma tudo e não dá nada, o hospedeiro dá tudo e não toma nada.

Então isso são palavras muito significativas e que resumem o que nós queremos e que é uma luta que está muito longe de ter chegado sequer ao meio. Infelizmente não sabemos se o tempo nos permitirá, quer dizer, se o tempo que nos resta antes que a pilhagem da natureza fique irreversível e que o crescimento demográfico que está sendo constatado, aliado a exaustão do ecossistema que sustenta a alimentação humana, que sustenta o consumismo humano, se esse tempo ainda é suficiente para que a sociedade humana se arrependa e procure encontrar um caminho que ainda não está definido e que certamente não é o caminho do neoliberalismo que jamais resolveu coisa nenhuma e não deu nada a não ser os poucos que aproveitam dele. E que o fracasso do socialismo autoritário pareceu mostrar este neoliberalismo triunfante quando, na verdade, nada triunfou. Quando muito uma vitória de Pirro. Estou certo que este terceiro caminho, forçosamente, deve incluir a adoção, pelo homem, das leis que governam o seu comportamento, o conhecimento destas leis que a pesquisa científica está revelando. E, é claro, o conhecimento das grandes leis ecossistêmicas do que se pode tomar e do que não se pode fazer com os ecossistemas. Vai também inexoravelmente nortear a conduta humana nas próximas décadas. É isso ou o perecimento. E se isto vai ser imposto pela catástrofe ou pela razão é o grande dilema atual da humanidade. Muito obrigado pelo prêmio que eu divido com os companheiros, familiares, e, é claro, com todos os que tiveram a bondade de vir a esta reunião. É isto aí. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h52min.)

 

* * * * *